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Oito homens e uma rainha: Sharon Jones a frente de sua banda, o The Dap-Kings (Foto: Divulgação)

Gustavo Miller
Do G1, em São Paulo

A passagem apática de Amy Winehouse pelo país em janeiro não deixou lá muitas saudades para quem estava à espera de ouvir o soul retrô que a inglesa encrenqueira ajudou a popularizar. Mas a partir deste sábado (11) os brasileiros terão outra chance. Estão por aqui os verdadeiros responsáveis por esse revival que fez despontar nomes como Duffy, Adele, Mayer Hawthorne e Janelle Monáe: a banda Sharon Jones & The Dap-Kings.

A cantora e a big band de oito integrantes começam nesta noite, em São Paulo, a primeira das três apresentações que farão pelo BMW Jazz Festival. “Fui avisada que devia tomar cuidado aqui no Brasil. Que era para não andar de joias porque iria ser roubada, que não era nem para tomar a água. Achei que estavam falando de Nova York, do meu bairro”, brinca a artista de 55 anos, ao lado de Gabriel Roth, baixista do The Dap-Kings e fundador da Daptone Records.

A gravadora independente é a principal responsável por reacender o gênero que ficou um pouco esquecido nos anos 1980 e 1990. O combustível desse fogo foi o The Dap-Kings, banda formada por ele para acompanhar Sharon e que ganhou fama mundial ao criar grande parte dos arranjos metálicos à la Stax e Motown de “Back to black” (2006), segundo álbum de Winehouse, vencedor de cinco Grammys.

“Depois que fizemos o CD da Amy, um projeto que só levou quatro, seis dias, tivemos uma grande exposição, o que foi ótimo. Mas acharam que tínhamos inventado uma fórmula de sucesso”, comenta Roth, que responde “um monte” ao ser perguntado sobre quantas vezes negou convites de artistas do pop que bateram em sua porta na época à procura da receita do som que saía daquela casinha no Brooklin.

“A gente quis se concentrar em nossa música, no nosso som. Estamos indo bem, felizes com o nosso sucesso sem o apoio do mainstream. Não precisamos pagar para entrar na rádio, fazemos uma carreira verdadeira, muito mais fiel e interativa com o público”, continua o baixista, enquanto explica que todas as gravações da Daptone são feitas com aparelhos analógicos em um estúdio de oito canais. Elas também são realizadas obrigatoriamente com todos os músicos, incluindo os de sopro e metais, tocando juntos ao mesmo tempo.

“Os melhores álbuns de soul e pop foram feitos assim, ao vivo. É muito mais orgânico”, discursa.

Quem ganhou com a postura da Daptone e da banda foi Sharon. Após dois álbuns bem recebidos pela crítica, ela e o grupo lançaram “100 days, 100 nights” em 2007. Ele logo figurou entre os melhores do ano e em listas de trabalhos de “soul retrô” essenciais da década.

“Desde que tenho 20 e poucos anos chamam o meu som de retrô. Qualquer pessoa que soe como Aretha Franklin é retrô. Nem soul retrô nem novo soul, eu faço é soul”, afirma Sharon, que suaviza a pancada da declaração com um sorriso.

Sharon faz graça em escada de hotel em SP, ao lado de Gabriel Roth e Binky Griptite (Foto: Gustavo Miller/G1)
Sharon faz graça em escada de hotel em SP, ao lado
de Gabriel Roth e Binky Griptite, do The Dap-Kings
(Foto: Gustavo Miller/G1)

A cantora, um toco de pessoa, demorou muito tempo para estourar. Nas entrevistas, costuma lembrar que sempre ouviu que era muito velha ou muito pequena para o show business. Foi “descoberta” somente em 1996, enquanto gravava os vocais de apoio para o veterano do funk Lee Fields.

Para chegar ao estrelato ela chegou a ser carcereira, um dos muitos trabalhos que teve para bancar o sonho de ser artista. “Também cantei em muito baile, coral, casamento. E foi ótimo.

Parei de fazer isso no tempo certo, quando começaram e pedir que cantasse dance music, tipo Christina Aguilera, Jennifer Lopez... Imagina eu, cantando Jennifer Lopez?”, pergunta com uma careta, enquanto canta baixinho o refrão de “Waiting for tonight”.

“Não tive filhos nem casei. E olha que tentei, pois sempre achei que só deveria ser mãe após casar. Mas não me arrependo, tudo o que fiz na vida foi para construir uma carreira musical. Eu aprendi do jeito mais difícil”, termina, citando o nome de seu último álbum, “I learned the hard way” (2010).

Sharon Jones & The Dap-Kings no Brasil

São Paulo
Onde:
Auditório do Ibirapuera (Parque do Ibirapuera)
Quando: 11 de junho, a partir das 21h (esgotado)
12 de junho, às 17h30 (espetáculo gratuito, do lado de fora do auditório)

Rio de Janeiro
Onde:
Teatro Oi Casa Grande (Parque do Ibirapuera)
Quando: 14 de junho, a partir das 21h (Av. Afrânio de Mello Franco, 290. Leblon)