Alex Queiroz Trio: o grupo apresenta-se no 10 0 13 Jazz Pub e em outras casas noturnas da capital (Foto: Paulinho Bandeira / Divulgação)
Alex Queiroz Trio: o grupo apresenta-se no 10 0 13 Jazz Pub e em outras casas noturnas da capital (Foto: Paulinho Bandeira / Divulgação)
Arthur H. Herdy

No eclético caldeirão musical da noite brasiliense, acordes diferentes convivem em harmonia. Alguns gêneros, caso do rock e do sertanejo, têm predominância. Outros demoraram a ganhar espaço, mas acabaram conquistando notoriedade. É o caso do jazz. Nos seus diversos tipos, em versões de standards vocais e instrumentais, bem como em repertórios autorais, ele vem ocupando posto nobre na agenda de bares, restaurantes e endereços de comidinhas. Hoje, a lista de casas que dedicam pelo menos um dia à música surgida em Nova Orleans, nos Estados Unidos, oferece aos admiradores uma programação para a semana toda (veja o quadro abaixo).

Algumas delas servem o ritmo como prato principal. Aberto em 2012, o 10 0 13 Jazz Pub faz referência em seu nome ao código postal de Tribeca, bairro boêmio de Nova York onde o gênero predomina. No ambiente intimista de cinquenta lugares, a faixa de idade dos ouvintes surpreende. “Muita gente acha que esse tipo de música agrada somente aos mais velhos. Aqui, entretanto, os jovens dão as caras tanto quanto os maduros”, conta Marcelo Vaz, chef e sócio da casa. Desde a inauguração, o bar até tentou investir em outros estilos no cardápio musical, mas os frequentadores pediram exclusividade para o jazz. E conseguiram.

Camilla Inês: ícone local, ela prepara o segundo disco (Foto: Maria Vitória Dutra / Divulgação)


Nem sempre foi assim. A cantora Muriel Tabb, de 58 anos, há três décadas apresentando-se na capital, lembra-se de um panorama diferente. “O instrumental sempre dominou, as vozes eram poucas. Mas, no geral, houve, sim, um crescimento notável nos últimos anos”, conta. Vinda de uma família musical, Muriel cresceu ouvindo boas melodias em casa. O jazz foi influência inegável nessa formação. Logo, saiu das improvisadas sessões na Universidade de Brasília para palcos mais imponentes. No caminho, encontrou músicos talentosos, a exemplo de Hélio Tabosa, seu irmão, Rosa Passos, Everaldo Pinheiro, Mirandinha e Paulo André Tavares. Gravou dois discos — Tantas Canções (1993) e Olhos d’Água (2002) — e manteve o gosto pelo ritmo.

Essa paixão gerou frutos e o DNA falou mais forte: seu filho Tico de Moraes, agora com 34 anos, seguiu a mesma trajetória. Desde pequeno, foi fisgado pelo jazz. Tanto que em 1993, ainda nos primeiros passos como violonista, participou de espetáculo da cantora Chude Mondlane em Moçambique. Já em 2005, Moraes, à época um profissional da área de relações internacionais, decidiu focar sua carreira na música. Atualmente, apresenta-se em várias casas da cidade, tocando inclusive composições próprias. Esses temas farão parte do seu primeiro CD, Velhos Discos, em fase de masterização. “Brasília exibe uma vocação muito grande para esse ritmo, tanto em produção quanto em público consumidor”, acredita.

Seguindo a tradição, Maria Vitória Dutra, de 24 anos, filha mais nova de Muriel e irmã de Moraes, desde o ano passado encanta internautas com vídeos postados na internet. Ao lado do violonista Ricardo Troccoli, ela faz parte do projeto Chá pra Dois. Nele, a dupla interpreta standards do gênero, a exemplo de All of MeAfter You’ve Gone e Tea For Two — essa última dá nome ao duo. Em paralelo, Maria Vitória começou a se apresentar na noite. A estreia foi nos shows do Clube da Bossa Nova, em abril. Ainda tímida em relação aos rumos da nova carreira, a antropóloga elogia a cena musical da cidade: “Antes de ser cantora, sou frequentadora da noite daqui e percebo a força que o jazz tem para a capital”.

A cantora Camilla Inês, por acaso, compartilha algumas similaridades com a história da família formada por Muriel, Tico e Maria Vitória. Recifense de nascimento, ela também integra um clã de músicos e deu início à carreira profissional por meio da internet. Tudo começou em 2007, durante uma temporada na capital pernambucana, quando postou de maneira despretensiosa três faixas em inglês no site MySpace. A resposta foi imediata e elogiosa. Ela, então, montou repertório para o showJazzmine, título absorvido pelo álbum de sete faixas lançado há três anos.

Em 2009, Camilla voltou para Brasília, onde já havia morado, e agora prepara uma segunda empreitada fonográfica. Nesse projeto, apropriou-se de uma mesma base da música negra. “Misturei a matriz africana que foi para a América do Norte, o jazz, com aquela que rumou ao sul, o samba”, antecipa. Para lançar o trabalho, ela contará com a ajuda do público por meio de financiamento coletivo. Serão necessários cerca de 40 000 reais para que The Rhythm of Samba saia do forno. No trabalho, ela deixou aflorar o lado compositora, incentivada por Roberto Menescal, colaborador do disco. A obra terá produção e piano de Cristóvão Bastos, João Lyra ao violão, bateria e percussão de Misael Barros, marido de Camilla e diretor musical do CD, e contrabaixo de Oswaldo Amorim. Os dois últimos, aliás, já figuram como nomes de referência no circuito de jazz brasiliense. 

Confira músicas de artistas da cidade em abr.ai/jazzbrasilia


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