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Por I. Malforea
“A música brasileira tem vocação para tudo. O experimentalismo faz parte dela de uma forma geral”, diz Júlio Medaglia neste sensacional documentário lançado em 2003, mas que só descobri recentemente. Felizmente não somos do tipo que considera coisas da boa música como velhas e não escutamos por moda, certo? Pois bem, este documentário já tem doze anos, mas ainda é atualíssimo.

Tudo começa tratando da experimentação como habilidade natural do músico brasileiro, fruto de anos de influência externa e pouca ou nenhuma tradição dita “pura”. Na verdade até hoje se discute qual seria a verdadeira identidade do brasileiro e nunca se chega a um consenso.  O Brasil dos boleros e cantores de “vozeirão”, inspirados nos gringos de repente dá espaço a um baiano de voz ridiculamente avessa a esse conceito. João Gilberto, ícone máximo da bossa nova. É quando nasce o Brasil aos olhos do mundo, com uma identidade própria, ainda que fruto de mais misturas, entre elas o samba e o jazz.

O experimentalismo é o principal instrumento da transgressão, presente em todos os movimentos musicais brasileiros, como a jovem guarda e o tropicalismo, sempre negando os way of life de seus antecessores e trazendo o grito do novo. Convidados especiais, como Tom Zé, Arnaldo Antunes, Julio Medaglia, Lenine e outros, discutem, entre vídeos de arquivo com outros artistas como Caetano Veloso, a música brasileira enquanto arte que também era produto.

Ao final, uma necessária reflexão sobre os rumos tomados pelo mercado fonográfico e de entretenimento. Qual o principal objetivo do mercado? A arte ou o lucro? Então, deixemos de lado esse papo furado de talento e criemos nossos próprios ícones, de fácil assimilação e um “bom acabamento”, para fisgar facilmente os compradores. Este é o ponto em que todos os entrevistados (e este que vos escreve) concordam. O mercado quer fórmulas imediatas, e a globalização é um dos grandes instrumentos rumo a uma uniformização dos produtos. O que dá certo nesse sentido deve ser explorado até a ultima gota (vide as infinitas duplas “sertanejas” que aparecem todos os dias, já com seus DVDs de público gigante, nos intervalos de todas as novelas). Depois usa-se outra fórmula simples, com truques estéticos baratos e que não exige muito pensar por parte do público.

“Quando o público é levado a pensar, acaba reagindo mal”, disse Arrigo Barnabé num dos vídeos de arquivo no documentário, logo após ser hostilizado. Chegamos então a um problema na música popular brasileira: apesar de a criação ter saído das mãos dos artistas para as mãos dos produtores, essa fórmula está fadada ao auto-sufocamento. Sem o experimentalismo natural do artista brasileiro, chegará um momento em que a mídia mainstream (claro, estamos falando desse patamar, porque a música independente continua a todo vapor) precisará sugar novamente a verdadeira arte, o que pode ser uma luz no fim do túnel para alguns. Assista ao doc e deixe aqui embaixo suas próprias conclusões.


Ficha Técnica:
Gênero: Documentário
Diretor: Renato Levi
Elenco: Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Carlos Rennó, Egberto Gismonti, Júlio Medaglia, Lenine, Tom Zé
Duração: 60 min
Ano: 2003
País: Brasil
Produção: TV PUC
Fotografia: Carlos Ebert
Roteiro: Fernando Salem
Direção de Arte: Rudi Bohn
Montagem: Renato Levi
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Este post foi publicado originalmente no site Troca o Disco, a qual sou colaborador. Confira mais posts e aproveite para conhecer o TDCast, podcast quinzenal dedicado à música.

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