BUDDY BOLDEN'S BLUES
Autor: ONDAATJE, MICHAEL
Tradutor: BRITTO, PAULO HENRIQUES
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Páginas: 176
Sinopse:
Michael Ondaatje - autor de 'Bandeiras pálidas' e 'O paciente inglês' - recria neste romance a carreira meteórica de Buddy Bolden , músico que revolucionou a maneira de tocar o cornetim, instrumento depois substituído no jazz pelo trompete. Neste livro que se apresenta como romance e não como biografia, o pouco que se sabe sobre Buddy Bolden é elaborado por Ondaatje tal como um jazzman desenvolve um tema musical - como material para variações. Daí, por exemplo, a possibilidade de acompanharmos de perto os complexos relacionamentos de Buddy com os amigos e as mulheres.
Jornal da Tarde / Data: 5/5/2001
O músico que não lia uma partitura e se tornou uma lenda
Tradutor: BRITTO, PAULO HENRIQUES
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Páginas: 176
Sinopse:
Michael Ondaatje - autor de 'Bandeiras pálidas' e 'O paciente inglês' - recria neste romance a carreira meteórica de Buddy Bolden , músico que revolucionou a maneira de tocar o cornetim, instrumento depois substituído no jazz pelo trompete. Neste livro que se apresenta como romance e não como biografia, o pouco que se sabe sobre Buddy Bolden é elaborado por Ondaatje tal como um jazzman desenvolve um tema musical - como material para variações. Daí, por exemplo, a possibilidade de acompanharmos de perto os complexos relacionamentos de Buddy com os amigos e as mulheres.
Jornal da Tarde / Data: 5/5/2001
O músico que não lia uma partitura e se tornou uma lenda
Autor de O Paciente Inglês escreve uma biografia romanceada de uma das estrelas do jazz quando o jazz mal havia atingido a maioridade
Por Ana Maria Ciccacio
Ele não gravou nenhum disco nem sabia ler música. Mas dizem que o lamento de seu trompete soava tão alto e profundo que em algumas noites podia-se ouvi-lo a milhas de distância. Sua paixão? O vinho e as mulheres. Sua vida? Repleta de mistérios. Sua arte? Ceifada pela loucura aos 31 anos. Buddy Bolden (1876-1931), até hoje reverenciado em Nova Orleans, é daqueles músicos lendários que deram sentido ao jazz quando o jazz mal havia atingido a maioridade. O historiador inglês Eric Hobsbawm cita-o pelo menos quatro vezes em seu clássico História Social do Jazz. E o escritor Michael Ondaatje, o mesmo autor de O Paciente Inglês, popularizado pelo filme homônimo que ganhou vários Oscars, dedicou-lhe o romance-biográfico Buddy Bolden's Blues. Quem aprecia o jazz não deve perder este livro. Ondaatje, nascido no Sri Lanka, em 1943, e radicado desde 1962 no Canadá, escreveu Buddy Bolden's Blues aos 33 anos, no começo da carreira, como um desafio, conforme disse a jornalistas brasileiros no começo de março, quando aqui esteve para lançar o livro. Juntando retalhos de história, memórias quase lendas de gente que teria ouvido e amado o som sensual e triste do "demoníaco barbeiro da Franklin Street", Ondaatje recria toda uma vida, sem no entanto preencher os vazios documentais. Ao rigor da pesquisa Ondaatje acrescenta sensibilidade poética, e assim alimenta ainda mais a lenda. Não há vazios, porque a literatura instiga a imaginação a completá-los. Buddy Bolden, "o mais preto dos pretos", como diz a lenda e Hobsbawm recupera, transforma-se em herói trágico. Alguém que morre num manicômio 24 anos depois da primeira crise de dementia praecox, mas é capaz de perpetuar-se pela arte. Quem ouviu o também editor de um jornaleco de escândalos, que depois da barbearia varava a noite levando ao delírio a platéia dos prostíbulos de Storyville e, nos desfiles de bandas pelas ruas da cidade, juntava atrás de si uma verdadeira procissão, só pode ser tratado assim: com imensa ternura. Dizem que Bolden teria achado seu trompete na rua. Dizem, também, que, quando não estava solando, ele o batia no chão do Odd Fellow's Hall, para marcar o ritmo. "Era uma música que tinha tão pouco juízo que dava vontade de limpar cada nota pela qual ele passava, passava como se estivesse passeando de carro, passava antes mesmo de se aproximar dela e vê-la direito. O único controle era a atmosfera da força de Bolden... e é por isso que é bom nunca tê-lo ouvido tocando numa gravação... Bolden jamais foi gravado. Manteve distância enquanto os outros entravam na história via cilindro de cera, via eletrônica, os outros que depois disseram ter sido Bolden quem abriu os caminhos. Era igualmente importante vê-lo esticar-se e rodopiar enquanto tocava as últimas notas, ver os nervos a latejar sob a pele suada da cabeça." Ondaatje escreveu um livro que desperta o desejo impossível de ouvir ao vivo o som mágico dessa música, e não o de uma gravação. Mas isso não decepciona, porque a força da poesia compensa a frustração. Fica-se a imaginar como ela soaria e a que blues abissal nos poderia levar.
Por Ana Maria Ciccacio
Ele não gravou nenhum disco nem sabia ler música. Mas dizem que o lamento de seu trompete soava tão alto e profundo que em algumas noites podia-se ouvi-lo a milhas de distância. Sua paixão? O vinho e as mulheres. Sua vida? Repleta de mistérios. Sua arte? Ceifada pela loucura aos 31 anos. Buddy Bolden (1876-1931), até hoje reverenciado em Nova Orleans, é daqueles músicos lendários que deram sentido ao jazz quando o jazz mal havia atingido a maioridade. O historiador inglês Eric Hobsbawm cita-o pelo menos quatro vezes em seu clássico História Social do Jazz. E o escritor Michael Ondaatje, o mesmo autor de O Paciente Inglês, popularizado pelo filme homônimo que ganhou vários Oscars, dedicou-lhe o romance-biográfico Buddy Bolden's Blues. Quem aprecia o jazz não deve perder este livro. Ondaatje, nascido no Sri Lanka, em 1943, e radicado desde 1962 no Canadá, escreveu Buddy Bolden's Blues aos 33 anos, no começo da carreira, como um desafio, conforme disse a jornalistas brasileiros no começo de março, quando aqui esteve para lançar o livro. Juntando retalhos de história, memórias quase lendas de gente que teria ouvido e amado o som sensual e triste do "demoníaco barbeiro da Franklin Street", Ondaatje recria toda uma vida, sem no entanto preencher os vazios documentais. Ao rigor da pesquisa Ondaatje acrescenta sensibilidade poética, e assim alimenta ainda mais a lenda. Não há vazios, porque a literatura instiga a imaginação a completá-los. Buddy Bolden, "o mais preto dos pretos", como diz a lenda e Hobsbawm recupera, transforma-se em herói trágico. Alguém que morre num manicômio 24 anos depois da primeira crise de dementia praecox, mas é capaz de perpetuar-se pela arte. Quem ouviu o também editor de um jornaleco de escândalos, que depois da barbearia varava a noite levando ao delírio a platéia dos prostíbulos de Storyville e, nos desfiles de bandas pelas ruas da cidade, juntava atrás de si uma verdadeira procissão, só pode ser tratado assim: com imensa ternura. Dizem que Bolden teria achado seu trompete na rua. Dizem, também, que, quando não estava solando, ele o batia no chão do Odd Fellow's Hall, para marcar o ritmo. "Era uma música que tinha tão pouco juízo que dava vontade de limpar cada nota pela qual ele passava, passava como se estivesse passeando de carro, passava antes mesmo de se aproximar dela e vê-la direito. O único controle era a atmosfera da força de Bolden... e é por isso que é bom nunca tê-lo ouvido tocando numa gravação... Bolden jamais foi gravado. Manteve distância enquanto os outros entravam na história via cilindro de cera, via eletrônica, os outros que depois disseram ter sido Bolden quem abriu os caminhos. Era igualmente importante vê-lo esticar-se e rodopiar enquanto tocava as últimas notas, ver os nervos a latejar sob a pele suada da cabeça." Ondaatje escreveu um livro que desperta o desejo impossível de ouvir ao vivo o som mágico dessa música, e não o de uma gravação. Mas isso não decepciona, porque a força da poesia compensa a frustração. Fica-se a imaginar como ela soaria e a que blues abissal nos poderia levar.
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