Até então, “Coltrane” pra mim era apenas o nome de uma bebida que nunca pude experimentar. A embalagem era uma lata azul, com nome gravado, e ficava guardada no andar mais alto na estante.
Tempos sem computador, muito menos Internet. Só fui ouvir o tal Coltrane aos 12 anos e sem o “unzinho”. Na época não tinha ideia do que era Jazz, apesar de ouvi-lo todo santo dia assistindo Tom&Jerry e eteceteras.
O som não me parecia muito novo, eu ouvia sax, orquestras e algumas melodias muito parecidas com aquelas, na igreja todos os domingos: bonitas, mas nem um pouco empolgantes. Fato é que aos 12 anos, eu me identificava muito mais com Legião Urbana do que com Coltrane ou qualquer outro Jazz.
Muito mais tarde, quando ouvi pela primeira vez Kind of Blue, do qual Coltrane fez parte, percebi o quanto poderia ser empolgante ouvir Jazz. A viagem musical justifica o uso dos “unzinhos” da letra do Renato. Encontrei-o também lendo “Ao Vivo no Village Vanguard”, livro do Max Gordon que entre muitas histórias, conta uma passagem da carreira de Coltrane (recomendadíssimo).
Continuo não entendendo muito de Jazz, e mesmo assim, cada vez que ouço John Coltrane entendo por que muita gente considerava sua música “espiritual”. Criatividade, leveza, técnica e dom… Música bonita como as de domingo na igreja, e senão empolgante: divina.
No som: Flashback no rádio
Uma vontade louca de experimentar o tal “Coltrane” da lata azul…
Ester Barreto é jornalista e assessora de comunicação da DB. Também autora do blog Vitrola de Cozinha
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