Thiago Guimarães
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Baião, maracatu, afoxé, forró e samba, o que não faltarão são ritmos nordestinos nos dois shows do gaitista carioca Jefferson Gonçalves na capital baiana. É essa a proposta do músico, que promete apresentar ao público hoje e amanhã, no Balthazar Grill & Bar, a mistura do blues negro norte-americano com ritmos essencialmente brasileiros.
O estilo "sem rótulos", como o próprio Jefferson prefere se definir, transita entre o blues e a música popular de raiz e é resultado de sete anos de estudos e viagens por diversas regiões do país.
A seiva dos sete anos de pesquisa do instrumentista pode ser ouvida nos quatro albuns lançados desde 2004, quando deixou de ser músico de acompanhamento e trouxe a gaita harmônica para a frente dos palcos, iniciando a carreira solo.
Com a adesão dos ritmos nordestinos, Jefferson subverte os padrçoes tradicionais da gaita harmônica, que, apesar de inventada na Alemanha do século 18, desde a década de 1930 passou a ser cultuada pelos seguidores da música negra norte-americana como um instrumento de alma blueseira.

É Blues?
Para Jefferson, "tocar só blues é coisa de gueto. Esse negócio de só poder tocar como os americanos tocam, isso não entra em minha cabeça. Acho que devemos fazer o que estamos sentindo, o que nosso ouvido gosta e quer escutar. Eu sempre gostei de Bob Dylan e Neil Young. Como todo mundo, comecei pelo blues e rock n' roll. Hoje escuto mais pife do que gaita, para pegar as idéias e trazer para o meu instrumento. Minha preocupação é a textura da música, essa coisa de 'é blues, não é blues' não me importa", desabafa.
Apesar das composições próprias encabeçarem a maioria das faixas de sua discografia, releituras de grandes nomes do blues ritmadas com tempero nordestino também fazem parte do seu trabalho. Canções de BB King, como a clássica Help the Poor, recebeu a roupagem de um maracatu cearense. Já o blues raiz Crossroads, de Robert Johnson, virou um maracatu pernambucano. "Tem até música do Bob Dylan em baião", diverte-se.

Nossa realidade
Apesar de ter bebido muito da fonte do blues, Jefferson admite que é mais aceito entre os músicos de jazz e de música instrumental brasileira do que entre os blueseiros. "Eles torcem um pouco o nariz, mas eu não me importo. Se você pegar Dominguinhos e escutar Lamento Sertanejo, você vai ver que aquilo ali é um blues, cara! Conta a realidade de quem saiu de lá do sertão para arrumar trabalho na cidade e só vive triste. Isso é letra blues e está dentro da nossa realidade, isso que eu acho legal", afirma o músico.
Nas duas apresentações em Salvador, Jefferson promete uma noite para cima e dançante, condizente com os shows que envolvem os ritmos nordestinos, se distanciando do clima roqueiro que comumente envolve as apresentações de blues.

Dança
"Nos nossos shows sempre tem alguém que levanta para dançar e a intenção é justamente essa, só depende do público. Nós vamos fazer por onde isso acontecer", garante. Durante os dois shows na capital baiana o músico apresentará canções do seu mais novo trabalho, o disco Encruzilhada, lançado recentemente pela Blues Time Records, além de canções antigas e releituras de clássicos do blues. No palco, Jefferson será acompanhado pela banda baiana Bond Blues.

Jefferson Gonçalves e Bond Blues
Hoje e sábado, às 22h
Balthazar Gril& BAr (3017-4343) Av. ACM, Shopping Cidade, Itaigara
Entrada francam na varanda; R$20,00(salão) e R$30,00(camarote)


Fonte: A TARDE (5/5/2011)