O primeiríssimo cartaz da DB





Hoje é um dia especial para a DB: há exatamente dois anos fazíamos nosso primeiro show. A banda nascera seis ou sete meses antes, comigo na voz e gaita, Rômulo Fonseca no violão e Camilo Oliveira no violão e banjo. Era só um projeto de pôr em prática uma boa idéia. Levamos a sério. Procuramos por muito tempo os integrantes adequados. Rômulo saiu, Camilo precisou viajar e fiquei com a difícil tarefa nas mãos. Encontrei Dieguinho(baixo, hoje nas bandas Ladrões de Vinil e Garboso) e Fernando Bernardino (guitarra, hoje nOs Barcos). Pra bateria, chamamos Thomaz Oliveira (ex-companheiro de The New Old Jam e atual Café com Blues) pro primeiro show. Resolvemos usar ternos, colocar uma enorme cortina preta no fundo do palco, criamos um cartaz "extremamente original" e tentamos divulgar ao máximo.
Camilo só pôde ir ao último ensaio, "tirou" todo o repertório durante sua viagem, e sem guitarra. Enquanto isso ensaiávamos todos os fins de semana. De espectador, o jovem gato Elvis, que adorava dormir no case da Gibson Les Paul. Enquanto isso Ester, nossa assessora, já documentava tudo com uma câmera fotográfica. Não tínhamos nenhuma música própria. Luar do Pontal surgiria algum tempo depois, totalmente diferente da versão de estúdio que conhecemos. Rômulo faria uma participação em Música Urbana 2, que tocamos meses antes num show-tributo à Legião Urbana, com vários artistas alternativos da cidade.
O show foi no bar onde acabamos de tocar na Noite Fora do Eixo(último dia 19), o Viela, a qual havia sido sócio fundador e acabado de vender minha parte na sociedade. Vida difícil e estressante, que me privava do que mais gosto de fazer: cantar numa banda. Resolvi deixar de me autodestruir e imediatamente toquei pra frente o projeto da DB. Voltei ao lugar não como atendente, barman, garçom ou o cara que agendava os shows dos outros, mas como músico. "Chega de falsas promessas", já diz a banda carioca Canastra. Fazer algo que não se gosta é certamente uma das piores coisas da vida.
Conseguimos incrementar um pouco nossa primeira apresentação: Iano Fernandes, do estúdio Carranca Tattoo, recém inaugurado, topou sortear uma tatuagem entre o público, com a condição de que o(a) felizardo(a) deveria ser alguém corajoso o suficiente para ser tatuado ao som do blues, no calor do momento. Também sorteamos alguns livros de Klécio Medeiros (A Montanha Deserta), dono do bar Apogeu, famoso na cidade. E o blues rolando solto. Tivemos ainda uma participação gaitística de Diro Oliveira, bandleader da Café com Blues, amigo de tempos remotos.
O repertório continha resquícios da primeira formação da banda, quando ainda era um trio acústico, como Bilhetinho Azul(Barão vermelho), Televisão (Titãs), os clássicos Dust My Broom e Crossroad Blues. Havia também outros como Pride and Joy, Have You Ever Loved A Woman, One Bourbon One Scoth One Beer, Mustang Sally, uma versão de A Volta do Boêmio criada pela banda Bêbados Habilidosos(MS) e até uma versão blues de A Hard Days Night, dos Beatles. Uma verdadeira salada mista blueseira. Resumia nossa proposta: clássicos, versões de músicas conhecidas de outros estilos e músicas em português. Desde a The New Old Jam eu não aguentava mais cantar só músicas em inglês. Algumas dessas músicas ainda tocamos em nossos shows atuais, mas cada vez menos. Estamos muito perto do ponto em que podemos fazer um show de duas horas sem tocar nenhuma faixa que não seja nossa. E é muito bom!
O tempo passou, apareceram novas canções, as formações mudaram várias vezes e cá estamos, prestes a gravar o segundo CD(primeiro album), com doze músicas inéditas. A primeira já está disponível, como aperitivo, Missing My Baby, de Camilo Oliveira. Já tem gente até de fora do país que já ouviu nosso som e nos acompanha pelo Twitter, Facebook, Orkut ou a newsletter do site. Algo incrível e extremamente desejado quando da época anterior ao primeiro show. E agora, o que esperar do futuro?
Bom, nós queremos o que todos os músicos independentes querem: a chance de um dia podermos tirar apenas da música nosso sustento, ser reconhecidos por nosso trabalho, feito com tanta dedicação, cuidado e carinho. Na verdade isso é o sonho de qualquer pessoa. É uma jornada difícil, pouco provável, pouco viável, mas continuamos firmes. Só mesmo muito amor pelo que se faz poderia explicar. Fazer o que gosta é viciante e extremamente recompensador quando algo dá certo. Pode ser qualquer coisinha, mas se deu certo é um êxtase. E nada disso existe sem a força que você, que está lendo este texto, nos dá, seja comprando um disco, retwitando uma mensagem, curtindo uma foto ou nos cumprimentando após um show. Não sei se é possível descrever. Queremos agradecer por esses dois anos desde nosso primeiro show, e quase três, desde o início da banda. Continuemos juntos, todos os dias, na trilha do blues.




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