CD do arranjador Ryan Truesdell foi eleito por 400 críticos de jazz
CD do arranjador Ryan Truesdell foi eleito por 400 críticos de jazz

Jornal do BrasilLuiz Orlando Carneiro
No ano passado (21/4), esta coluna foi dedicada à celebração do centenário do canadense-novaiorquino Ian Ernest Gilmore Evans, com o lançamento de um CD muito especial, intitulado Centennial: Newly discovered works of Gil Evans, produzido pela ArtistShare (www.artistshare.net), a cooperativa criada e dirigida por Maria Schneider — discípula de Evans e uma das maiores estrelas do jazz contemporâneo.
O disco de 10 faixas foi fruto de um trabalho investigativo do igualmente compositor-arranjador Ryan Truesdell, formado pelo New England Conservatory, onde estudou com Bob Brookmeyer. Ele pesquisou arranjos manuscritos inéditos de Evans no arquivo da família, e descobriu obras virgens, ou raramente tocadas - algumas dos tempos do primeiro emprego do legendário músico, na década de 1940, na banda de Claude Thornhill. Ou seja, mais de 10 anos antes das suas antológicas “suítes” escritas para o solista Miles Davis (Miles ahead, Porgy and Bess e Sketches of Spain).
De posse desse valioso material, Truesdell reuniu uma big band integrada por jazzmen da “Primeira Liga” de Nova York, principalmente membros da orquestra de Maria Schneider, como os saxofonistas Donny McCaslin (tenor), Steve Wilson (alto) e Scott Robinson (barítono); os trompetistas Greg Gisbert e Laurie Frink; o pianista Frank Kimbrough e o baixista Jay Anderson. E ainda músicos do quilate de Joe Locke (vibrafone), Romero Lubambo (guitarra), Marcus Rojas (tuba), Lewis Nash (bateria) e da vocalista Luciana Souza.

A primeira faixa de Centennial é Punjab, peça inédita de Evans que tinha sido composta para o LP The individualism of Gil Evans (Verve,1964), mas acabou ficando de fora.
Outras partituras de Evans desenterradas, particularmente preciosas, são The Barbara song (tema de Kurt Weill) e Waltz/Variation on the misery/So long, um medley de 19 minutos. Há ainda arranjos feitos para acompanhamento de vocalistas, como é o caso de Look at the rainbow, originalmente escrito para um álbum de Astrud Gilberto, e só agora revelado pela orquestra de 12 cadeiras, com a voz de Luciana Souza.
Pois este precioso trabalho de Ryan Truesdell foi eleito, na semana passada, pela Jazz Journalists Association (mais de 400 votantes), o disco do ano (lançamentos de março de 2012 ao mesmo mês deste ano), à frente de CDs muito badalados como Accelerando (ACT), do pianista Vijay Iyer, e Black Radio (Blue Note), do grupo fusionista do pianista Robert Glasper.
A brasileira Luciana Souza foi a vencedora do pleito na categoria vocalista feminina - derrotando Dianne Reeves. Certamente, não só por sua atuação no CD de Tresdell-Evans, mas também pelo sucesso de crítica de dois álbuns que lançou, em agosto do ano passado, pela Sunnyside: Book of Chet, acompanhada por um trio; e Duos III, com os guitarristas Romero Lubambo, Marco Pereira e Toninho Horta.
Na eleição anual da JAA, a orquestra formada por Ryan Truesdell para o “Projeto Gil Evans” ficou em primeiro lugar no quesito large ensemble, com mais votos do que as afamadas Charles Mingus Big Band, Maria Schneider Jazz Orchestra e Jazz at Lincoln Center Orchestra. Maria Schneider, no entanto, manteve o primeiro lugar de sempre entre os compositores-arranjadores em atividade.