Por I. Malforea
Desde que me entendo por gente fico intrigado com algumas coisas no período junino. Na verdade, percebo um certo padrão de comportamento que também encontro no período do carnaval, presente em todo o país e não tão regionalista quanto o São João, data tão ou mais forte que o primeiro em toda a região nordeste, exceto em Salvador. Estou falando do fenômeno do público oportunista.
Explico: aqui na Bahia não é preciso dizer que os estilos que chamo de sotero-pornomusic (do grego sotér + polis = "Cidade do/de Salvador") dominam as cidades. Me parece ser como o funk-que-não-é-funk-nem-aqui-nem-na-China no sudeste. Ao se afastar da capital outros estilos também acabam aparecendo, mas quando se está próximo do fim do ano até o período do carnaval é a música se Salvador que impera mesmo. É carro de som, é som ambiente em lojas, bares, e os vizinhos também nos forçam a ouvir incessantemente essas coisas. Daí, ao se aproximar de junho, algo curioso acontece: somem os axés e assumem os forrós.
É banda de forró que não acaba mais. Várias têm por nome alguma mistura esdrúxula ou nomes pomposos e breguíssimos, do tipo "Mísseis Tomahawk do Forró". São todas, em minha opinião, cópias umas das outras e todas fariam o velho Gonzaga se contorcer na cova, de desgosto. Aliás, há até espaço para ele, DominguinhosSivucaJackson do PandeiroMarinês, etc. São mestres, e mesmo as bandas de barulheira com pernas de fora disfarçadas de forró sabem que não lhes é permitido ignorá-los. Há ainda alguns contemporâneos considerados de boa qualidade, como Flávio José e Targino Gondim. Eu não gosto de forró, mas respeito de verdade alguns nomes desse gênero, por reconhecer que fazem um trabalho sério e não-vulgar.
Aí entra a questão: existe sim a música de moda, que será esquecida no ano que vem, mas também há música respeitável e atemporal, mas o público, sabe-se lá o porquê, só a acolhe em épocas específicas: Luiz Gonzaga é totalmente ignorado fora do período junino, enquanto Ivete Sangalo, tão amada e superexposta, é rejeitada no período junino. Os produtores até tentam inseri-la, mas, como dizem por aqui, "não combina". Por que existem épocas certas para se curtir determinadas músicas? Que público é esse que vira as costas a alguém que há alguns dias era tudo de bom?
É isso que eu chamo de público oportunista, ou oportunismo musical: o público que tem dia e hora para amar o artista. Se passar desse dia e hora, ele não significa mais nada. Uma vez li em algum lugar que as pessoas não se importam com você, e sim com o que você pode oferecer a elas. No caso, é conveniente ao público modista seguir "a onda" carnavalesca ou junina (ou alguma outra onda que eu não me lembre ou não conheça) enquanto isso está em alta, do contrário o artista não só é inútil como é sinônimo de alguém que "está por fora". Passa-se a ser até vergonhoso ser flagrado escutando isso. Quem, nesse contexto, vai colocar músicas do carnaval de cinco anos atrás em seu carrão barulhento?
Para mim, que não sei o que é escutar algo por modismo, parece coisa de outro mundo. O artista desses estilos se depara com a dura realidade de ser esquecido pelo público todo ano, mas com o alívio de saber que é só esperar alguns meses para voltar a ser importante. Pior ainda deve ser a paranoia do artista que sabe que tem prazo de validade definitivo. Alguém ainda ouve falar do "fenômeno" Restart? Até mesmo a enxurrada de bandas indie filhas dos Los Hermanos, insuportavelmente presentes no cenário underground dois anos atrás, está enfraquecendo. Música boa não tem prazo de validade. E não venha me dizer que "boa" é algo relativo, se você abandona seu artista favorito só porque ele sumiu da mídia. Agora deixou de ser bom? Oportunista!

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* Este post foi publicado originalmente no site Troca o Disco, a qual sou colaborador. Confira mais posts e aproveite para conhecer o TDCast, podcast quinzenal dedicado à música.
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