A formação 2015-2017 da DB foi a mais estável desde o nascimento da banda |
Os mais atentos já devem ter notado que algo está diferente: onde estão os shows com a banda completa? Onde estão as fotos e vídeos novos? Afinal de contas, o que está havendo? A banda parou as atividades? Bom, acho que devemos ter uma relação sincera e próxima com os fãs, e por isso vou explicar tudo o que aconteceu nos últimos meses.
Antes de tudo, sinto a necessidade de contextualizar: quando montei a banda, há praticamente oito anos, minha visão era bem simples: uma banda é um conjunto de músicos amigos, onde todos trabalham, dividindo tarefas, por um bem comum, como numa sociedade empresarial ou, como alguns dizem, num casamento. Vale enfatizar bem essa questão do "dividindo tarefas", ou seja: todos trabalham, logo, o mérito é de todos quando há ganhos, e o prejuízo idem. Mas a realidade não é tão simples, assim como a própria democracia não o é.
A verdade é que passei esses oito anos "carregando a banda nas costas" praticamente sozinho: desde a iniciativa de criá-la, passando pela escolha do nome, a maioria das composições, as iniciativas para gravar os discos, a produção de cada um, o projeto gráfico, tanto dos discos quanto de todo o resto, o site, a BLUEZinada!, os projetos, uma boa parte dos equipamentos, praticamente todos os shows, viagens, a cerveja da banda e uma lista interminável de coisas que tornariam este texto ainda mais tedioso, partiu exclusivamente de mim. Em resumo, estou há oito anos batalhando praticamente sozinho pra fazer a DB conquistar seu lugar ao sol.
É importantíssimo ressaltar que isso não foi um ato de autoritarismo, à la Roger Waters: sempre evitei e me incomodei em dar as cartas para que os outros apenas seguissem as instruções, mas é preciso entender uma regra da vida: existem pessoas que nasceram para liderar, e outras, a esmagadora maioria, para ser liderada. Não foram poucas as vezes em que tive que dar "aquela" bronca em meus colegas, pedindo para que me ajudassem, dividindo as tarefas. Eu sempre quis que a DB fosse uma democracia e, mesmo com tanto tempo sendo o gigante Atlas do "grupo", esta é a primeira vez em que não me refiro ao meu trabalho chamando-o de "nosso".
Falando em Roger Waters, após ler uma biografia do Pink Floyd percebi que ele passou pela mesma frustração que eu: ser um membro ativo da banda enquanto o restante era inerte. Daí veio sua fúria ao chamar a banda de "meu bebê". Quando saiu, David Gilmour passou a carregar esse fardo, e não aguentou por muito tempo, obviamente. Hoje eu entendo perfeitamente, e nunca mais falei de músicos autoritários sem antes entender um pouco do contexto. Vivendo e aprendendo.
O fato é que passei tempo demais sustentando o "sonho da banda democrática feita por amigos com mesmos direitos e deveres". Provavelmente por isso ainda esteja aqui no interior da Bahia, onde é preciso batalhar sabe-se lá quantas vezes mais do que algum blueseiro paulistano, por exemplo, pra conseguir um showzinho simples, num bar pequeno. A sensação é exatamente o que o produtor Geovane Bento chama de "artista hamster", onde se corre incansavelmente numa esteira, mas não se sai do lugar.
Para não ficar em mais choradeira (até porque eu detesto isso), o resumo dessa parte é: eu estou exausto de tanto correr nessa esteira e não sair do lugar.
A DB teve várias pessoas diferentes em sua formação e esta última foi a que me deixou mais esperançoso. Parecia que finalmente a banda definitiva havia chegado: eu tinha bons músicos, amigos, criamos um ciclo de ensaios de 8 a 12 horas semanais por mais de um ano, gravamos dois clipes, lançamos um álbum, criamos um podcast, lançamos nossa cerveja, e estávamos cheios de planos. A DB estava prestes a passar de um CNPJ de MEI (o meu, claro) para uma sociedade Ltda., onde criaríamos nosso próprio merchandising e várias ideias ainda ótimas e inovadoras. Comprei vários cursos de music business, mas notei que o interesse em estudá-los era apenas... Meu!
A banda estava se encaminhando para se tornar uma empresa que teria várias formas de gerar renda e nos trazer o sonho de viver bem de música, ainda que num nicho específico. O problema é que isso é um parque de diversões para alguém com um objetivo claro e definido como o meu, mas pode ser assustador para alguém que ainda está em cima do muro: "viver de música ou seguir uma profissão convencional?". Bom, eu vivo exclusivamente de música desde 2014 e estou muito bem e feliz com isso, obrigado.
A crise política e econômica do ano passado atingiu a todos: a falta de grana fez muita gente "se virar nos trinta" para pagar suas contas e com a gente não foi diferente: foram tempos difíceis que só agora estão ficando para trás, ao menos para mim. A convivência com pessoas faz com que sejamos, com o tempo, capazes de detectar SINTOMAS. Quando Rômulo Fonseca (ex guitarrista) anunciou sua saída, em 2016, eu já sabia que isso aconteceria ao menos uns quatro meses antes. E falei para os outros se prepararem. Foi na mosca!
No final do ano passado, o guitarrista Lavus Bittencourt estava estranho. Percebi os sintomas. Pouco tempo depois, já em 2017, ele anunciou que se mudaria para Salvador, ou seja: estaríamos sem guitarrista. Isso foi o estopim: percebi que os membros restantes, Nephtali (bateria, graduado em Direito) e Rodrigo (baixo, especialista em técnicas gráficas) estavam com os mesmos sintomas de desânimo. Percebi que já não adiantava mais falar palavras de incentivo e otimismo: passei a apenas esperar o dia em que me anunciariam a saída, como sempre fiz. Foi na mosca!
Após gravar o BLUEZinada! Podcast #005, Neph o fez. Anunciou não só que deixaria a banda, mas que passaria a se dedicar totalmente ao Direito. Não queria mais saber de ser músico. Rodrigo havia anunciado algo parecido alguns dias antes, por WhatsApp: passaria um bom tempo viajando a trabalho, sem previsão de retorno. Aqui estou eu, novamente sozinho, com a DB nas mãos, e alguma atitude a tomar.
Mesmo prevendo e acertando tudo o que aconteceu, não pude evitar o abalo. O que fazer? Achar músicos de blues é extremamente difícil por aqui e não é qualquer um que é capaz de tocar esse estilo: ou você tem o hábito de escutar naturalmente ou, mesmo sendo um maestro, não será capaz de tocar com o famoso feeling. Não, não é frescura: já me cansei de ouvir músicos dizerem que "blues é fácil", mas não saberem o que fazer ao se deparar com o primeiro slow blues do ensaio-teste. É simples: não se meta com o que não entende. Eu, mesmo com um tempo considerável de experiência como cantor, jamais me meteria a cantar samba, simplesmente porque não é a minha praia e não ficaria natural. Eu não ouço samba no meu dia-a-dia.
Me senti sem chão desde o dia do anúncio da saída de Neph, mas sou brasileiro: sei que uma queda deve ser sempre seguida de um levantar, de cabeça erguida. Primeiro tive que olhar o todo e entender de uma vez por todas: são oito anos de estrada, sendo o líder. Simplesmente é tarde demais para aceitar que um novato apenas chegue, assuma seu lugar ao "trono" e tenha o mesmo poder de decisão que eu tenho, sem ter passado pelo processo de construção que enfrentei praticamente sozinho. Demorei para entender, ou aceitar isso, e sei que minha busca por essa democracia foi mera ilusão e perda de tempo. Percebi que até mesmo minha parte musical ficou em segundo plano: composições, estudo de instrumento, tudo ficou para trás por acumular tantas funções.
Em segundo lugar, tive de ser realista: se em todo esse tempo não consegui achar a minha banda definitiva em minha cidade-natal, que sempre fiz tanta questão de enfatizar, a chance de isso acontecer é quase nula agora. Definitivamente, a única saída é... Sair! Buscar um lugar mais adequado ao meu trabalho e que o valorize mais adequadamente. Sair da "gaiola do hamster" e encontrar meu lugar. Admitir que meu tempo em terras conquistenses já passou, e há um bom tempo. Independente de surgirem bons músicos, eu não quero mais ter uma banda aqui.
Por isso, já tenho uma ideia de onde devo ir, mas prefiro não entrar em detalhes, por enquanto. O fato é que é muito difícil encontrar quem esteja disposto a "se tornar um membro da banda", até porque ganhar esse "título" implica em assumir certas responsabilidades, que já estou careca (literalmente) de saber que a maioria esmagadora dos músicos brasileiros não está disposta a assumir. Os músicos querem tocar: não querem lidar com burocracia, contabilidade, planejamento, estudos de marketing, mexer em códigos HTML, ECAD, leis, lidar com contratantes, imprensa, etc. E o artista independente do século XXI precisa, justamente, lidar com isso tudo e muito mais. A ilusão dos caça-talentos da gravadora pomposa ficou lá no milênio passado. E, sejamos justos, a DB está longe de ser uma banda que se contenta apenas em fazer shows.
Então, não chamarei mais a banda de "banda", e sim de "projeto". No sentido de ser algo regido por uma pessoa, mas que não é sua "carreira solo". Uma banda é um conjunto de pessoas, e este não é o meu caso. De agora em diante, este é o site DO Distintivo Blue. Minha intenção é procurar músicos que queiram tocar por cachês, os famosos freelancers. Não vou mais implorar a ninguém que divida tarefas comigo: vou continuar fazendo, como sempre foi, mas sem a frustração de ser o único que aparentemente está interessado no assunto. Sei que, com o tempo, os músicos que serão fixos aparecerão, e até mesmo podem estar dispostos a ser "membros da banda", mas não estou mais esperando: quando surgirem essas pessoas, o bonde já estará andando e cada um terá suas glórias proporcionais ao seu próprio esforço. Não dá mais pra deixar o tempo passar enquanto espero boa vontade e garra de terceiros.
Então, este é o motivo de O Distintivo Blue não estar com shows marcados, novos vídeos, novidades e tudo o mais. A formação atual é apenas o velho Malfs de guerra, que não desiste porque sabe que vai dar certo, mais cedo ou mais tarde. Eu disse a seguinte frase algumas vezes nos últimos meses, respondendo a fãs e amigos: "a DB só acaba quando eu morrer". Continuo me apresentando solo ou em dupla, inclusive com ex-Joes, tocando as músicas autorais, movimentando a BLUEZinada!, gravando podcasts e tomando decisões. É uma questão de paciência e planejamento, e isso não se resolve do dia para a noite.
A internet é a versão moderna do que foi o rádio, a TV, o cinema: uma fábrica de ilusões, onde todos se esforçam bastante para mostrar apenas seu lado feliz, nas fotos em redes sociais, principalmente, mas todos somos humanos: desde eu e você até o Paul McCartney, com alegrias, frustrações, momentos felizes e tristes, perdas e ganhos. Há algum tempo pretendia contar aos que se interessam e apoiam o DB o que se passa por aqui, mas não sabia como e nem estava preparado pra cutucar mais um pouco essa ferida: não está sendo fácil, mas não tá fácil pra ninguém. Que caiamos e levantemos juntos e nos incentivando. Agradeço pelo apoio de todos, inclusive de todos os ex-membros que passaram pelo DB. Eu fiz QUASE tudo sozinho, e valorizo a contribuição que cada um deu ao projeto.
Gosto de mudanças, e isso renova as energias. O próximo álbum não se chamará mais "Todos os Dias Vol. 2" e reformularei todo o layout do site. Quando menos se esperar haverá um cartaz anunciando um show do DB. Um pouco de paciência e suspense não faz mal a ninguém. Caso você seja músico e quiser participar dessa nova fase, basta mandar um e-mail para contato@distintivoblue.com. Por enquanto manterei o formato de quarteto (voz/violão, guitarra, baixo e batera), que funcionou tão bem. Continue comigo nas redes sociais e nos sites. Grande abraço a todos,
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