Hoje resolvi compartilhar algo pessoal com você. Como diz em minha mini bio ao rodapé, sou músico. Toco em bares, na noite, e também em palcos maiores, com minha banda autoral. Como dizem por aí (e é bem clichê, mas verdade pura), "barzinho é escola". Aqui aprendemos tudo sobre a profissão: desde a entender seus limites físicos e psicológicos, aperfeiçoando nossa técnica, presença de palco, feeling, entrosamento, mas também sobre relações humanas. Lidar com gente é... Complicado. Mas somos seres sociais, então temos de engolir essa e aprender como não sair por aí cortando cabeças.

Uma das primeiras coisas que entendi quando comecei a tocar profissionalmente em barzinhos é que tocar música não-vulgar é, infelizmente, exceção. A esmagadora maioria da população é criada pela Som Livre e toda a sua megaestrutura que enfia goela abaixo seus "sucessos" através da mídia convencional. Então, toco apenas o que gosto. Sou incapaz de dedicar dez minutos da minha vida a estudar uma música do Safadão, por exemplo. Vivo me gabando que trabalho com o que gosto, e fazer algo assim seria controverso e triste. Tem muito músico triste por aí, por sinal.

Mas o resto do mundo pensa diferente, e está altamente condicionado. Não são raras as vezes em que vejo os garçons de um bar esperando ansiosamente por um intervalo no show para colocar suas pérolas no som mecânico. Tipo... Toquei RaulBelchiorLed ZeppelinBeatlesJohnny Cash, minhas músicas próprias e os garotinhos mal esperam eu terminar de anunciar que voltaremos em dez minutos, e já vem aquele maldito pancadão com letras... Singulares. Acabaram com todo o clima que criamos nas últimas duas horas e ainda mandaram a mensagem: "sua música não é bem-vinda". Muitas vezes os funcionários pensam diferente do patrão, claro. Quem me contratou foi o dono do bar, não os garçons, mas ele provavelmente está ocupado demais para prestar atenção nesse "pequeno" detalhe, que faz uma grande diferença: a identidade sonora do seu estabelecimento.

Tocando na noite passamos a observar, inclusive, as falhas e acertos de um empreendimento. Vemos clientes se irritarem, funcionários e patrões vacilarem feio, ou acertarem bonito também. Inclusive, algo que a maioria dos donos de bar não percebem: nós, os músicos, também somos formadores de opinião para a clientela do lugar. Não se engane: o músico é um prestador de serviço, mas no dia seguinte pode ser um cliente como qualquer outro, mas com um conhecimento extra sobre o lugar. Se a comida não for boa, o atendimento for ruim, as condições de higiene não forem decentes, jamais levaremos nossa família ou amigos a esse lugar. Não que saiamos por aí queimando o filme dos outros, mas as pessoas perguntam, naturalmente... E nós respondemos. Eu jamais irei a um bar que toca música que não gosto, por mais aconchegante que seja, ou a um restaurante cuja cozinha eu sei que é suja.

Para sanar esse inconveniente do som mecânico antes, nos intervalos e após nossas apresentações, criei, no Spotify, uma playlist com músicas que têm a ver com o meu estilo (basicamente fico no blues-country-rock-folk) e que não assustariam pessoas as ser tocadas num bar comum. A lista de nomes é gigantesca, assim como a própria playlist, que sempre sofre atualizações. MalfoMusic to Save Us from that Shit traduz um pouco do meu gosto pessoal, com esse propósito: fazer o pano de fundo para minhas próprias apresentações por aí, então não espere encontrar as músicas mais pesadas ou experimentais de determinada banda: é música (que eu considero) boa, para ambientar situações, sem muito impacto.

Estou sempre adicionando novas músicas, o que significa que há muitas de um mesmo artista em sequência, portanto a melhor forma de escutar é no modo aleatório. Assim não fica enjoativo e dá mais chances de você descobrir algo interessante, ainda desconhecido. Essa playlist fica em meu tablet, preso ao pedestal do microfone para servir de auxílio com as letras, em ponto de bala, plugada à mesa de som. Quando eu digo que vamos fazer um intervalo, aperto o play imediatamente, sem dar chance para qualquer Psirico dar as caras. Como são músicas que eu gosto, vivo escutando no dia-a-dia também. Espero que curta e, fique à vontade para me sugerir alterações.