Coluna do Estadão, para domingo 20-06-2010

A internet me fez voltar 50 anos atrás, exatamente na noite de 21 de outubro de 1960, quando, adolescente, dançava ao som da orquestra de Harry James, nos salões do chamado Palácio de Mármore, do Moinho São Jorge, em Santo André, no que era chamado de Primeiro Baile Oficial das Debutantes, organizado pelo clube Pan WD-Panelinha. Quem me transportou a esse passado distante foi o site de jazz de Ronaldo Benvenga (www.quintaavenida.mus.br).

Se você é um apaixonado por música como eu, saiba que existem excelentes sites de jazz. E quem quiser ouvir essa música maravilhosa encontrará centenas de opções na internet. Não me atreveria a falar de todas, mas escolhi dois sites, meus preferidos, para ilustrar esta coluna.

O primeiro site de jazz que recomendo foi criado e é mantido por um dos maiores conhecedores da música norte-americana do Brasil, Ronaldo Benvenga. Seu conteúdo nos dá uma completa visão do jazz tradicional, com as Big Bands, os grandes instrumentistas, os maiores cantores e compositores. Além disso, o site tem artigos excelentes. E melhor do que tudo: você pode ouvir todas essas músicas, na série de programas de rádio feitos por Benvenga.

Periodicamente, entro no site Quinta Avenida para ouvir as Big Bands de Glenn Miller, Artie Shaw, Tommy Dorsey, e Harry James. Ou compositores como Gershwin, Cole Porter, Jerome Kern, e cantores como Frank Sinatra, Billy Eckstine, Perry Como, Bing Crosby, Sarah Vaughan, Louis Armstrong, Ela Fitzgerald, Billy Holiday, Tony Bennett, Doris Day e outros.


Guia do Jazz

Outro conhecedor e apaixonado pelo jazz é Emerson Marques Lopes, autor do Guia do Jazz na internet (www.sobresites.com/jazz) e que escreve também para outras publicações online. Em seu guia, Emerson sugere outros sites sobre jazz em português e em espanhol, escolhe o site do mês, as rádios online, os podcasts jazzy, artistas, música instrumental do Brasil, shows e festivais, CDs, revistas, lojas, gravadoras e as 20 mais.

Com a espontaneidade do jornalista, Emerson dá excelentes sugestões. E conta até que aprendeu a gostar de jazz e de música em geral desde seus tempos de universitário, quando trabalhava com CDs na extinta Mr. Music, no bairro dos Jardins, em São Paulo, que só vendia discos importados e atendia a clientes exigentes e conhecedores de música. Depois, trabalhou em diversas outras lojas. A última delas foi a Musical Box, do bairro de Higienópolis, em São Paulo, que tem um dos maiores acervos de jazz.

Concordo inteiramente com uma observação de Emerson Lopes sobre o desaparecimento das lojas tradicionais de CDs, em consequência da pirataria e do preço elevado dos discos. Em São Paulo, por exemplo, sobrevivem praticamente as grandes redes – Saraiva, Cultura e Pops Discos. No Rio, a Modern Sound, em Copacabana.

Rádio na internet

Se você prefere ouvir jazz em emissoras de rádio na internet, as opções são muito maiores, a partir das emissoras brasileiras. Comece pela Eldorado, no site do Estadão (www.estado.com.br). Ou procure no site da TV Cultura a opção Rádio Cultura FM www2.tvcultura.com.br/radiofm), que mostra na grade de programação o programa Cultura Jazz, de segunda a domingo, à meia-noite.

Outra opção para quem quer ouvir jazz o dia inteiro é instalar o iTunes (grátis) da Apple em seu computador. É bom lembrar que há bastante tempo esse software já tem versão para PC Windows, além, é claro de Mac. Depois de instalado o iTunes, você pode escolher no menu a opção Rádio. Clique na lista de gêneros de emissoras que você pode ouvir e encontrará jazz. Abra a lista de rádios que só transmitem jazz, dia e noite, e escolha. São mais de 120 emissoras de todo o mundo. É uma festa.

Como está tudo em ordem alfabética, você encontra até uma rádio chamada Bossa Nova-Sky FM, que só toca nossa música. Outras que tocam bossa nova: Smooth Jazz Expressions, com a qualidade de 128 kbps.

Em seu Guia do Jazz, Emerson Lopes faz uma resenha muito interessante de mais de 20 emissoras de rádio que só tocam jazz. Da Smooth Jazz Expressions, ele diz que seu diretor, Kerri D, apresenta toda quinta-feira, ao vivo, o programa After Hours.

O melhor dessas rádios é hoje a qualidade do som, em MP3 na amostragem de 128 quilobits por segundo (kbps).

E o futuro?

Preocupo-me com o desaparecimento da maioria das lojas de CDs e com o declínio das gravadoras. Quase tudo que encontro hoje é em liquidações e pequenas casas de música que teimam em sobreviver. Minha esperança é que a música digital da internet possa asseguar modelos alternativos de mercado e de negócios que lhes deem sustentabildade e nos permitam o acesso à música popular de melhor qualidade.

O mais difícil é este período de transição, em que não temos mais a variedade e a disponibilidade de CDs de jazz, de música popular internacional e música clássica, nem temos ainda as melhores opções para a música digital baixada legalmente na internet.

Num horizonte de 3 a 5 anos, com a evolução tecnológica, com a oferta de banda larga muito mais abundante e barata, teremos alternativas vantajosas, seja do ponto de vista da qualidade musical, seja dos preços.

Meu desafio é transferir todo o acervo de minha discoteca para os novos meios de armazenamento e servidores digitais domésticos. É um trabalho que exige paciência.

Fonte: Ethevaldo Siqueira