“A gaita pode produzir riffs tão poderosos quanto de uma guitarra!”

É fácil saber quando Paulinho Sorriso está tocando: além da técnica inconfundível, basta procurar por alguém feliz atrás dos pratos, das caixas e do bumbo.

Ele começou na noite paulistana há 24 anos, em barzinhos, tocando um pouco de tudo. Isso lhe deu a experiência e a versatilidade para transitar entre diversos estilos. Hoje seu principal projeto como músico é com o Endorsee Bends Sérgio Duarte, no Entidade Joe. Também toca no Sandália de Prata, banda de samba-rock, além de ser Endorsee da fabricante de pratos Órion.

Porque a opção pelo blues?
Paulinho: “Acho que eu já estava envolvido com o blues desde muito antes de entender do que se tratava...(risos)... Sempre gostei de black-music, e o meu primeiro contato com o blues foi nos bailes que rolavam na casa de meus familiares, que estavam engajados no samba-rock. Só que na época, nem imaginávamos que o "samba-rock" internacional que curtíamos, era na verdade variação direta do blues.”

“Minha introdução ao cenário bluseiro nacional foi pelas mãos de Johnny Boy, um grande amigo que trabalha com o Nasi, Na época o Tchernev (baterista do Nasi) tinha uns compromissos e entrei como substituto. Conheci ali o Sérgio Duarte que me convidou a entrar no Entidade Joe.”

Há quanto tempo toca com o Sérgio Duarte?
Paulinho: “Já perdi as contas...(risos)...uns 11 anos fácil...”

Como você vê o Sérgio, musicalmente falando?
Paulinho: “O Sérgio é um músico brilhante, tanto tecnicamente, quanto no feeling. Ele consegue trazer pra música tudo o que ele sente, o que ele vive. Esse talento é nato! Acho até que ele não recebe a atenção merecida entre outros músicos do meio...o que se pode fazer?? Mas esse talento ninguém tira dele..”

Como é o processo de composição no Entidade Joe?
Paulinho:
“O principal compositor é o próprio Sérgio. Normalmente ele tem uma noção muito clara de como quer as coisas. Quando vem para os arranjos, todo mundo participa. O Celso Salim e o Rodrigo Mantovani conseguem captar com muita facilidade a intenção sonora e demonstram muito respeito aos aspectos originais da composição...e aí tudo flui muito facilmente”.

E do ponto de vista da bateria, como é a relação com a gaita no blues ?
Paulinho:
“A gente da "cozinha" tem sempre um pé atrás com a galera dos solos...(risos)...As vezes parece que eles não conseguem se entrosar com a levada, e tem dificuldade em desenvolver a "estória" que rola em seus sons. Os caras que conseguem trabalhar este "blend", levam seu som ao inimaginável.É assim que entendo os grandes gaitistas: eles trabalham em conjunto por, pela e para a música”.

“ Um som de gaita consegue costurar isso tudo e trazer uma personalidade especial pra cada musica,além de produzir levadas e riff tão poderosos quanto uma guitarra ou um hammond nas mãos certas. Na dose certa é tudo...”.

Dentro disso, o que o som do Sérgio acrescenta à sua técnica?
Paulinho:
“Trabalhar com o Sérgio me obriga a estar muito atento ao que vou aplicar em cada condução. No Entidade a gente tem muita liberdade pra criar e utilizar uns elementos mais modernos. Como disse anteriormente, o Sérgio sabe muito bem o que quer em suas composições,então eu tenho sempre que estar muito atento em até que ponto meus rudimentos não começam a soar muito Jazz, ou muito hip-hop...”.

Conte um pouco sobre com quem já tocou...
Paulinho:
Minha carreira está mais associada a vertentes como a MPB e o Reggae. O blues chegou profissionalmente meio tarde...Toquei com muita gente bacana: Marcio Boesen, CIA Coro & Corpo, Jorge Cordeiro, Max Fairbanks, Magnata e Marajá, Gabrielle Harban entre outros.Mas o maior destaque foi o período em que vivi na Jamaica: tive oportunidade de tocar com Maurice Gordon (guitarrista do Jimmy Cliff), Ian Cameron Trio, Angell, Karen Smith, JC Lodje, Stella Louis, Tyrone Downie (tecladista de Bob Marley), Junior Marvin (guitarrista de Bob Marley).No tempo em que vivi lá, trabalhei muito com o pessoal relacionado com o Jazz".

“No blues, além de ter tocado com o Nasi, tive também a oportunidade de tocar com muita gente nos festivais promovidos pelo Sergio Duarte. Tive a honra de tocar com Flávio Guimarães, Ivan Marcio, Marcio Abdo, Val Tomato e com o Melk Rocha...Tem um vídeo bacana no youtube com a gente tocando a versão Entidade pra Hoochie Coochie Man,. Hoje meus principais trabalhos são ao lado de Sergio Duarte e também com a banda Sandália de Prata.”

Falando de Entidade Joe, como o público em geral tem recebido a banda e o blues?
Paulinho:
"Viver de Blues no Brasil é estar entre os 300 de Esparta...(risos)...as pessoas têm uma tendência a achar que o blues é triste e melancólico o tempo todo. Por esta razão as pessoas tomam um susto com nosso trabalho: temos musicas extremamente dançantes em nossos CDs, temos irreverência, e é claro temos a hora slow...Mesmo aqueles amigos que costumam nos acompanhar se surpreendem com a capacidade de superação do Entidade.”

“Como todo mundo no blues, não temos nosso disco figurando entre os top 10 das rádios comerciais... A gente sofre com a falta de espaço pra apresentar um trabalho com este perfil. Mas por onde passamos procuramos deixar bem claro a nossa postura: tocamos porque adoramos o blues Quem nos assiste percebe isto e adora!!!”

Como Endorsee de uma fábrica nacional de instrumentos, como vê a entrada da Bends neste mercado?
Paulinho:
“Eu tenho um posto bem delicado na Órion, sou endorsee e também sou responsável pela comunicação da empresa com os músicos. Sempre que tenho oportunidade falo sobre a importância do desenvolvimento da industria nacional. Comecei a tocar quando era extremamente difícil conseguir instrumentos nacionais de qualidade. Esta realidade mudou radicalmente.”

“Empresas como a Bends, a Orion, a RMV, a Alba têm trabalhado arduamente no sentido de produzir instrumentos que não sejam cópia dos importados; mas que reflitam a necessidade do músico brasileiro que atua em condições bem diferentes do artista europeu, americano ou japonês. Nós temos uma cultura musical respeitada no mundo todo, mas ao que parece, só agora estamos abrindo os olhos para isto. Temos a nossa própria forma de tocar blues, rock, funk, jazz...por isso temos que trabalhar no sentido de desenvolver instrumentos que reflitam essa forma de tocar, esta linguagem.”

“Lembrando que o produto "importado" tem nome e qualidade porque nós também colocamos nosso dinheiro lá. Se colocarmos nosso dinheiro em empresas daqui, alcançaremos com certeza um patamar ainda melhor que o deles, num período de tempo bem menor. Temos talento, matéria-prima, mão-de-obra para produzir e para tocar estes instrumentos. O que é que estamos esperando ????”

Para saber mais do trabalho de Paulinho Sorriso, acesse:

www.sergioduarte.com.br
www.facebook.com/sergioduarte
www.orioncymbals.com.br/mainstream
www.rmv.com.br
www.myspace.com/paulinhosorriso
www.facebook.com/paulinhosorriso
www.myspace.com/orioncymbals
www.myspace.com/sandaliadeprata
www.youtube.com/sandaliadeprata
www.youtube.com/orioncymbals


Fonte: Bends