Fotos: Rafael Flores
Não é fácil uma banda ser bem-sucedida tocando um gênero que está longe de ser a última moda do mundo da música. ADistintivo Blue sabe bem o que é isso: eles carregam desde 2009 em Vitória da Conquista a bandeira do blues, um estilo de som que tem vários fãs mas muita gente mal sabe o que é. O desafio de representar um gênero alternativo demais, a falta de apoio e outras dificuldades acabaram fazendo com que, em certo momento, os músicos decidissem dar uma pausa nas atividades da banda.
A Distintivo passou quase todo o ano de 2013 em coma, mas chegou um momento em que a necessidade de tocar foi mais forte. “Eu não vivo sem música”, diz o vocalista I. Malforea. “Eu penso musicalmente, eu acordo pensando música e vou dormir pensando música. É uma coisa que tá no primeiro plano, não só para mim como para os meninos aqui. Então a gente não aguentou e voltou. E aí foi legal porque as coisas começaram a acontecer”.
Que coisas? Bem, além de uma fase de explosão criativa em que várias composições novas foram surgindo (eles dizem já ter música suficiente para fazer até mais que um álbum completo), a banda partiu esta semana em sua primeira turnê. Começou nesta terça-feira (11) com um show em Aracaju e depois ainda tem apresentações em cidades como Juazeiro do Norte (Ceará) e Cajazeiras (Paraíba). No dia 23 a Distintivo embarca de volta para a Bahia e, três dias depois, encerra a turnê com um show gratuito aqui em Conquista, no Centro de Cultura. A banda até já tinha tocado fora da cidade antes, mas em outros estados é a primeira vez.
Isso não é coisa que assuste muito os músicos. “É uma coisa meio estranha de se falar – a gente, por incrível que pareça, é mais conhecido fora da cidade do que dentro”, explica Malforea. “Então é claro que vai ter muita gente que nunca ouviu falar da banda, mas também tem muita gente que tá animada por saber que a gente tá indo pro seu estado”.
distintivoblue
Esse alcance fora de Conquista foi conseguido através de uma presença online muito forte. A Distintivo Blue tem a preocupação de manter o seu site oficial atualizado e nunca deixa de postar uma novidade no Twitter e no Facebook. Segundo Rômulo Fonseca, um dos guitarristas, eles ainda aproveitam a internet para trocar informações: “a todo momento a gente tá conversando, tá mandando ideia, pensando em influências, enviando alguma música um pro outro…”, afirma ele.
A turnê que começa esta semana está acontecendo graças a um edital de circulação do Banco do Nordeste. A Distintivo já tinha sido chamada para participar disso outras duas vezes, mas só pôde agora. Então os caras vão fazer quatro shows pelos centros culturais do Banco do Nordeste e mais cinco que eles mesmos arranjaram em lugares próximos. Nada impede que surjam até mais apresentações no caminho – basta que alguém convide.
Na preparação para a turnê, a banda ensaiou em estúdio, com bateria, microfone e tudo nos conformes. Mas o que chama atenção mesmo é que também rolaram vários ensaios abertos na Praça Guadalajara, a conhecida Praça da Normal. É uma prática que a Distintivo já tem há um bom tempo porque, além de ser mais econômica, cria um contato direto com o público. E ainda tem o bônus de que o formato acústico deixa os defeitos mais aparentes, e aí fica mais fácil podá-los.
Ensaio da Distintivo no último sábado/ Foto: AJ Oliveira
Ensaio da Distintivo no último domingo/ Foto: A.J. Oliveira
A Distintivo tem a missão de fazer música com todo o sentimento necessário ao blues sem cair na armadilha de emular a forma americana de escrever letras. “Eu não gosto de seguir a mesma linha que todas as bandas de blues seguem, que é falar de mulher e bebida com as poesias mais pobres possíveis”, diz Malforea. “E muitas bandas de blues brasileiras fazem só meio que traduzir isso pro português. (…) Eu não posso dizer que a nossa música é maravilhosa, mas pelo menos ela é sincera”.