A DB em sua formação completa

Por I. Malforea

Em 22 de janeiro de 2010, a DB fazia seu primeiro show, após aproximadamente seis meses de tentativas, mudanças e experimentações. De lá para cá, gravamos dois EPs, participamos de três coletâneas de nível nacional e duas de nível internacional, lançamos uma zine gratuita para o público(com cinco edições publicadas até o momento), fizemos shows beneficentes, fomos convidados para festivais, tocamos em várias emissoras de rádio,  fomos aprovados em editais de cultura, participamos de festivais competitivos, conhecemos muita gente, defendemos campanhas de doação de órgãos, combate aos maus-tratos a animais, direção com álcool, melhoria do meio-ambiente e, claro, fizemos nossa parte na divulgação do blues e jazz, sobretudo nacionais.

Agora, com mais de três anos de vida, chegou a hora de pararmos para respirar. Quando dissemos que não é fácil fazer blues no interior baiano, falamos muito sério. Enfrentamos incontáveis dificuldades para encontrar músicos(trocamos de formação várias vezes, principalmente de baterista), chegamos até mesmo a tocar em formato acústico por quase todo o ano de 2011 justamente por não encontrarmos baterista por aqui. Lidamos com muitas pessoas irresponsáveis, que nos atrapalharam muito e enfrentamos todas as dificuldades que uma banda que não pode se dar o luxo de se dedicar integralmente à música enfrenta. 

Apesar de muitos convites e até mesmo sermos aprovados num edital para circulação em outros estados, não pudemos largar nossos empregos e estudos para um mês de turnê. Descobrimos que a música independente no Brasil cresceu muito, mas os produtores(e os próprios músicos) criaram a ideia de que uma banda independente deve sempre tocar de graça, por amor à música. Isto é realmente poético quando se tem o apoio financeiro dos pais ou quaisquer outras pessoas, mas terrivelmente cruel quando se é preciso pagar as próprias contas. É fácil ser rebelde e irresponsável quando não se precisa preocupar com comida, água, luz, etc. Não é o nosso caso.

Estamos envolvidos com música até o pescoço há muitos anos, época em que a maioria do nosso público ainda não podia ir a um show sozinha. E a DB foi o projeto mais sério que tivemos. Todos sonhamos com o dia em que a banda poderia nos dar a liberdade de não ter que trabalhar com outra coisa. Mas encontramos um cenário onde, como já dissemos, tocar de graça se tornou o padrão, e a politicagem reina absoluta. Basta se curvar a determinado grupo para ter todas as dádivas do céu e cair na estrada linda e limpa do sucesso. Isso, a nosso ver, não tem nada a ver com rock n' roll, aquele estilo de vida onde caráter, atitude  e opinião valem muito. Isso implica em ser sempre verdadeiro e fiel aos seus princípios. 

Hoje há dois mainstream: o convencional, que passa na TV e nas rádios, e o paralelo, onde, nos mesmos moldes, se projeta incessantemente os artistas escolhidos da vez e se vira as costas(e a carteira) aos demais. Percebemos que, infelizmente, nossa cidade-natal está longe de ser o cenário ideal para que uma banda de blues cresça. Não somos fofinhos como as bandas "alternativas" da moda, nem nos curvaremos a politiqueiros para conseguir algo. Chegamos à conclusão de que, enquanto estivermos por aqui, será sempre remando contra a (forte)correnteza. E isso, depois de certa idade, nos deixa exaustos.

Resumindo, a Distintivo Blue está encerrando oficialmente suas atividades até que consigamos sair para outro lugar. Acreditamos mais do que ninguém em nosso próprio trabalho e proposta, mas abrimos mão de muito(mesmo) para conseguir um lugar ao sol, sem sairmos do lugar suficientemente. O site e todos os perfis nas redes sociais continuarão no ar, mas sem a mesma atividade. Nosso e-mail ( contato@distintivoblue.com ) também continuará ativo, mas será verificado no máximo duas vezes ao mês. Por hora, deixaremos de postar no site com a mesma frequência(que nos toma muito tempo por dia). Ainda não decidimos, mas talvez a BLUEZinada! será a única a continuar normalmente, mesmo que apenas a versão digital. Todas as músicas continuarão disponíveis para download gratuito.

Tínhamos o projeto de gravar de oito a dez músicas no primeiro semestre de 2013, mas decidimos gravar apenas 2012, Miopia, que nos trouxe uma grande visibilidade, mesmo antes de ser gravada. Com ela participamos de um importante festival e ainda vencemos uma chamada criativa da rede ItsNoon. Em pouco tempo a versão de estúdio estará pronta e disponível para download. Ainda temos o projeto da versão definitiva do EP Aplicando a Lei, contemplado pelo Programa BNB de Cultura 2012, em parceria com o BNDES, que também será concluído no primeiro trimestre de 2013. De tempos em tempos, inesperadamente surgirá alguma nova surpresa para vocês.

Por fim, agradecemos a todos que nos apoiam, curtem nosso trabalho e desejam nosso bem. Foram justamente vocês que nos deram gás para chegar até aqui de cabeça erguida. Contamos com vocês no futuro, quando a banda finalmente estiver pronta para voltar à cena, num contexto diferente e mais propício, infelizmente longe de nossa terra-natal. Fizemos nosso último show em 14 de dezembro de 2012, na praça Barão do Rio Branco (Festival Avuador), da forma que mais gostamos: de graça para o público. Se você esteve lá e filmou/fotografou, entre em contato com a gente.Um grande abraço, keep calm... And feel the blues!




I. Malforea - voz, gaita, kazoo, cajón e produção
Rômulo Fonseca - guitarra, violão, gaita e voz
Camilo Oliveira - guitarra, violão, banjo, mandolin e voz
Rodrigo Bispo - contrabaixo
Weslei Lima - bateria